16 de janeiro de 2018

Curitiba no século XIX



Hugo Calgan – estação da diligência em Curitiba, 1881

Como era Curitiba no século XIX?
•Dentre as formas de se ter um panorama do passado estão a leitura de relatos de visitantes e imagens de pinturas antigas.
•Curitiba recebeu alguns ilustres visitantes no século XIX que reportaram em livros suas passagens e guarda também algumas pinturas da paisagem feitas por artistas e desenhistas da época.
•Hugo Calgan, da tela anterior, foi um pintor que residiu em Curitiba por pouco tempo na década de 1880 e pouco se sabe sobre ele.
•Seguem algumas pinturas e trechos de livros retratando  Curitiba no século XIX:

1820 - Auguste de Saint-Hilaire
•Viagem a Curitiba e Província de Santa Catarina - Ed. Itatiaia – 1978
•“...a cidade tem uma forma quase circular e se compõe de duzentas e vinte casas pequenas e cobertas de telhas, quase todas de um só pavimento, sendo porém, um grande número delas feitas de pedra...”;
•“...as igrejas são em número de três, todas feitas de pedra...”;
•“...Curitiba mostra-se tão deserta, no meio da semana, quanto a maioria das cidades do interior do Brasil. Ali, como em inúmeros outros lugares, quase todos os seus habitantes são agricultores que só vêm à cidade nos domingos e dias santos, trazidos pelo dever de assistir à missa...”;
•“...em Curitiba e seus arredores é muito pequeno o número de pessoas abastadas...”.
Saint-Hilaire era francês, botânico e fez viagem de estudos no Brasil.

1827 - Jean Baptiste Debret
O famoso pintor francês teria visitado o sul do Brasil? Não há documentos que comprovem a suposta viagem, entretanto foi feita uma pintura da cidade de Curitiba que é a primeira imagem conhecida da cidade. Especula-se que esta e outras pinturas da coleção poderiam ter sido feitas depois, a partir de esboços de terceiros. Na imagem aparece em primeiro plano o trabalho de construção da Igreja de São Francisco de Paula, cujas ruínas ainda sobrevivem. Supõe-se que a esquerda é a Igreja da Ordem (poderia ser também a igreja do Rosário?), porém está desalinhada com a Matriz ao centro. 




1855 - John Henry Elliot
 Elliot era filho de ingleses nascido nos EUA, agrimensor e se fixou no Paraná. Participou da exploração do norte paranaense contratado pelo Barão de Antonina.

1858 - Robert Avé-Lallemant
•1858, Viagem pelo Paraná - Fundação Cultural de Curitiba – 1995
•“... me surpreendeu muito agradavelmente a cidade de uns 5000 habitantes. Naturalmente nela nada se encontra de grande ou grandioso...”;
•“...desde a chegada do Presidente e do pessoal administrativo, Curitiba tem o seu Palácio. Naturalmente é um simples rés-do-chão e tem aparência despretensiosa, modesta, mas é bonito e asseado...”;
•“...para a força militar foi construído um quartel-general, que é visto de longe e produz um belo efeito...”;
•“...Curitiba, a vila enfezada, marcha com energia para um novo desenvolvimento...”.
•Lallemant era alemão, médico e viajante aventureiro.

1865 - Joseph Keller
Obs: 1-A Catedral já aparece com torres achatadas; 2-A esquerda, no alto, a capela e as obras inacabadas da Igreja São Francisco; 3-Em 38 anos, de 1827 (Debret) a 1865 (Keller), nota-se pouca evolução nas edificações da cidade.
Joseph Keller era alemão, engenheiro e no Paraná trabalhou em levantamentos hidrográficos. Era pai de Franz e Ferdinand Keller.

1872 - Thomas P. Bigg-Wither
•Novo caminho no Brasil meridional: a Província do Paraná - J.Olympio/UFPR - 1974
•“...a cidade de Curitiba podia ter 9500 habitantes, dos quais 1500 eram imigrantes, especialmente alemães e franceses...”;
•“...todas as lojas maiores pareciam ser de propriedade de brasileiros ou portugueses, enquanto a grande maioria das lojas menores estava em mãos de alemães...”;
•“...a falta de altas agulhas de torres ou de edifícios altos ou mesmo das usuais chaminés dá a Curitiba, vista de longe, aspecto muito diferente do de uma cidade inglesa. Quase que se podia classificá-la de aglomerado de tendas e cabanas...O costume, quase universal, de pintar as casas de branco fortalece esta semelhança...”
•“...nas longas elevações ondulantes da planície de em torno, o gado bovino pastava...”
•Bigg-Wither era engenheiro inglês e veio fazer estudos para a construção de uma via hidro-ferroviária atravessando o Paraná até o Mato Grosso (Antonina/Miranda).

1872 - William Lloyd













Vista do alto São Francisco. A matriz foi construída em 1721 e as torres em 1858. Esta construção apresentou problemas estruturais em duas ocasiões. Primeiro em 1784 e depois em 1875. Foi substituída nestas ocasiões pelas Igrejas da Ordem e do Rosário respectivamente.
Lloyd era engenheiro inglês e esteve dois anos no Paraná para acompanhar os estudos da hidro-ferrovia Antonina/Miranda, pois era um dos concessionários junto com o Visconde de Mauá, Antonio Rebouças e outros.

1873 - Thomas P. Bigg-Wither
•“Curitiba tinha saído inteiramente de minhas lembranças nesse intervalo de 14 meses. À direita e à esquerda da nova estrada que levava a Palmeira havia longas carreiras de casas, no mesmo lugar onde antes eu vira campo aberto. À direita, em construção, vi um gigantesco edifício, mais no moderno estilo de um hotel de Londres do que dos que vira no Rio e, em todos os lados, havia sinais inequívocos de progresso.”

Obs: 1-Em 1873 foi concluída a obra da estrada da Graciosa, primeiro importante vetor de desenvolvimento de Curitiba; 
2-O edifício observado por Wither em seu retorno à cidade é a Santa Casa de Misericórdia, em construção na época; 
3-Bigg-Wither neste livro relata seus encontros com personagens importantes da história do Paraná, como Antonio Rebouças, Telêmaco Borba e John Henry Elliot, dentre outros. O livro é dedicado ao Visconde de Mauá; 
4-A obra acabou não saindo do papel, pois em curto período a maioria dos sócios morreram e Mauá foi levado a falência.

Mapas de Curitiba
•Os mapas da cidade de 1857 e 1894  a seguir, mostram, pela área ocupada, o rápido crescimento por que passou a capital neste intervalo.
•Em 1853, o Paraná se emancipou e se tornou Província. Um dos primeiros atos do governo foi providenciar os estudos para a construção de uma estrada ligando o litoral a nova capital, pois só existiam três trilhas não carroçáveis (Graciosa, Itupava e Arraial).
•Portanto, 1857 ainda espelha as carências da velha comarca.
•Em 1894 o progresso é evidente, fruto das obras de ligação com Paranaguá: estrada da Graciosa em 1873 e ferrovia em 1885. Em 1887 já operavam também os bondes de mula na cidade.
•Foi neste período também que começou a ser publicado o primeiro jornal (Dezenove de Dezembro, em 1854) e funcionar o telégrafo, o telefone e a energia elétrica. Era o início da transformação de uma vila praticamente estagnada por 160 anos na metrópole de hoje.
• Ícone do progresso é a onipresente Igreja Matriz, hoje Catedral. Ela pode ser observada em várias fases nas pinturas e desenhos e ao final do século em fotografias.

Mapa de 1857


Rua das Flores = Rua XV, Rua do Comércio = Mal. Deodoro, Rua da Carioca = Riachuelo, Rua da Assemblea = Dr. Murici






Foto de 1870.


Demolida
entre 1876 e 1880
para dar
lugar a atual.






Mapa de 1894



































Catedral em construção















Foto de 1892






Inaugurada em 1893